Um novo Pedro
...O
coração psicológico de Pedro podia ser comparado ao solo à beira do
caminho. Era rude, compactado, inflexível e sem grande cultura. Era
impetuoso, irritado, tenso e especialista em reagir antes de pensar.
Mas, ao contrário de Judas, era simples e transparente. Não dissimulava
seus comportamentos, dizia o que pensava. Sua mente era um livro aberto.
Sua emoção, instável, porém sincera. Ficava fácil descobrir o que
estava por trás das suas intenções. Pedro atropelava Jesus com
freqüência. Dizia coisas sem sua permissão. Colocava-o em situações
difíceis, todavia suas reações eram carregadas de ingenuidade e não de
maldade. Ele repetia os mesmos erros com freqüência porque não sabia se
controlar. Pedro parecia um homem de extrema coragem, mas como não se
interiorizava, não conhecia seus limites. Cortou a orelha de um soldado
porque se apoiava na grandeza de Jesus..Dentre os que andaram com Jesus,
ninguém errou tanto quanto Pedro. Mas havia uma qualidade nele que
sempre habitou nos grandes homens. Não tinha medo de errar, de chorar,
de se entregar àquilo em que acreditava, de correr riscos para
conquistar seus sonhos. Era rápido para errar e rápido para se
arrepender e retornar ao caminho. Sua personalidade era uma
colcha-de-retalhos que foi trabalhada por Cristo. Era o mais velho entre
os discípulos, mas também o que se colocava mais vezes como criança
diante do seu mestre. Ele descobriu o segredo da arte de aprender.
Esvaziou-se de seus paradigmas e preconceitos, não temeu ao novo, não
teve medo de explorar o desconhecido. Judas não soube aprender essa
lição. Jesus tinha um grande cuidado com Pedro. Sabia que ele era
precipitado, mas também que ele era sincero e franco. Certa vez, Jesus
aproveitou a própria ansiedade de Pedro para ensinar-lhe. Quando os
funcionários de Roma chegaram e perguntaram a ele se Seu Mestre paga
imposto? Pedro, sem perguntar a Jesus, disse Sim. O mestre, paciente,
enviou-o a pescar e disse que no primeiro peixe que fisgasse encontraria
uma moeda para pagar imposto. Pescar com a vara era um exercício para
sua paciência, e encontrar uma moeda na boca do peixe era um exercício
para sua fé. Parecia algo impossível. Ele mesmo se questionava enquanto
pescava: “Por que sou tão precipitado? Da próxima vez, fecho a boca.”
Então pescou o peixe com a tal moeda e aprendeu a lição: Vou pensar
antes de falar. Pedro falou muito, entretanto tornou-se um grande amigo
do mestre da vida.
Todos nós estamos, de alguma forma, representados
na história de Pedro. Quem não tem atitudes como às de Pedro? Quem não é
escravo do medo quando se está doente ou correndo risco de morte? Quem
não é tomado pela ansiedade quando ofendido, ameaçado, pressionado? Quem
nunca negou as próprias convicções diante das tempestades da vida?
Todos nós temos nossos limites. Muitos dos que se julgam estáveis e
seguros, não suportam situações imprevisíveis. Uma crise financeira é
capaz de roubar-lhes a tranqüilidade. Uma crítica os leva a reações
intempestivas. Pedro era ansioso, mas não volúvel. Seu caráter era
sólido. O jovem irritado e insensível tornou-se um poeta da
solidariedade.
Termina sua mais longa carta sem críticas, cobranças,
sem apontar defeitos. Nunca o amor curou tantas feridas da alma. Nunca
se soube de alguém que aprendeu tanto, tendo tão pouco. O apóstolo Pedro
tornou-se também um Mestre da vida. Graça e paz!
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